poniedziałek, 22 listopada 2010

A obscenidade e a sexualidade em Os Cus de Judas

Depois da crise da viravolta moderna os ideais gregos do belo e do bom desactualizara-se. Acho que a modernidade criou a sua definição do belo que não pode ser definida como estético e bonito. A estética pós-moderna concentra-se na descoberta de um método para apresentar a realidade na sua totalidade, a preocupação estética tradicional deixou de ser tão importante. A pósmodernidade usa muito o campo semântico antes conciderado baixo e indigno para a literatura. A nova estética tem alguns traços do turpismo porém o obsceno, feio e grosseiro está apresentado como uma parte integral da vida quotidiana, as pessoas cheiram mal, têm desejos quase animalescos, defecam, masturbam-se. Acho que em Os Cus de Judas o autor tenta chegar a essência do que é um ser humano tambéma través da apresentação deste lado. A nudez, o despir-se de roupas, mas também das máscaras, das regras sociais e do bom tom é o estado em que aproximamo-nos mais a essa essência.

«Pela alminha de quem lá tens entesa-te, supliquei a mirar de viés a minha pila morta, não me deixes ficar mal e entesa-te, pela tua saúde entesa-se, entesa-se, foda-se, entesa-se, a minha mulher mudava fraldas de alfinete de ama na boca, o tenente devia falar na criada ao capelão aterrado que se benzia, os caixões na arrecadação aguardavam que eu me estendesse, obediente, no foro de chumbo, a rapariga parou de me bejar, apoiou-se no cotovelo como as figuras dos túmulos etruscos, passou-me a mão na cara e perguntou O que é que não vai bem, Olhos Azuis?, e eu encolhi os ombros, rodei até ficar de bruços no lençol e desatei a chorar.»

«falta-me a tua vagina ensolarada para ancorar a minha vergonha de ternura, o meu pénis erecto que se curva para ti como os mastros se inclinam na direcção do vento, esta sede de amor raivoso que te escondo»

O ser nú mostra o que escondemos por dentro, mas este lado nem sempre é positivo.

«Era boa, hã? Estava feita com os turas. Comissária, topa? Demos-lhe uma geral para mudar o óleo à rapaziada(...)»

«Está em si, no seu perfil sarcástico desprovido de amor, na obstinação do seu silêncio e no mover mecânico das suas ancas durante o coito, devorando o meu pénis como um estómago digere, indiferente, o alimento que lhe oferecem, recebendo os meus beijos na paciência vagamente aborrecida das prostitutas da minha infância.»

«Entrei no quatro de banho dos sargentos, na pocilga eternamente inundad e nauseabunda a que se chamava quart de banho dos sargentos, vi o oficila abraçado, numa espécie de desespero epiléptico, à prisioneira, criatura muda e tímida encostada aos azulejos,(...)as nádegas do homem formavam um movimento de êmbolo que se apressava, a camisa pegava-se às costas em ilhas imprecisas de suor»

Imagem poética em Os Cus de Judas

A beleza do estilo de ALA está composta por vários factores, linguagem, tamática dos romançes e a sua abordagem. Porém, o que aprecio mais é a capacidade de criar imagens poéticas. ALA é capaz de criar imagens de modo semanticamente económico. Em vez de introduizir descrições longas e pormenorizadas o autor prefere uma linguagem trabalhada, exacta que tenta captar a realidade de forma concreta, concentrando-se no pormenor. As imagens poéticas estão criadas por várias figuras retóricas tais como a metáfora e a metonimia. A economia do estilo de ALA faz com que o leitor não fique aborrecido com a longa descrição, rapidamente capte a imagem adequada. Esta estratégia permita também uma abordegem bem perspectivada do tema, ou seja em 196 páginas encontramos muitíssima informação, detalhes e observações. A riqueza da obra está criada também pela anamorfose, mas deste fenómeno tratarei em outra entrada. Abaixo vão os fragmentos do romance que na minha opinião são uma das provas da perfeição do estilo de ALA.

«Depois do jantar, o motor reticente da electricidade dava corda a uma constelação de candeeiros gagos que aclarava de viés o renque das mangueiras, arrancando ramos trágicos do escuro»

«o amor barato e rápido em compartimentos abafados,aclarados por pavios indecisos de petróleo que coloriam as paredes de barro de uma ilusão de capelas»

«O seu corpo escapa-se me como membros se nos escapam com o sexto drunfo, independentes de nós, flutuando gestos de polvo a que falta o arame dos ossos, e por dentro da sua cabeça giram pensamentos idecifráveis de que me sinto expulso, condenado a permancecer, de pé e à espera, no capacho da entrada dos seus soslaios irónicos, à maneira, sabe como é, de uma lata de conservas de que e não tem a chave»

«São Salvador, La Paz, Buenos Aires, Montevideu, edifícios de andares que as maçãs de Adão dos elevadores percorrem de contínuo para baixo e para cima em deglutiçãoes incessantes vomitando funcionários escuros, de bigodes, cujos sorrisos se abrem como cortinas sobre dentes de oiro de uma amabilidade carnívora»

«De chinelos na coinha, você prepara um café forte como um electrochoque que a projecte para fora do seu invólucro de sono na direcção do emprego»

poniedziałek, 15 listopada 2010

tempo da narrativa e tempo da acção

A magia do romance é o poder cativante da ficção, da ilusão que parece ser mais verdadeira do real. No romance de Antunes atrae-nos a linguagem, a trama, mas também a narração que flui, o fluxo de consciência. Este truque narrativo tem várias características, esta de que eu gosto mais é a relaçáo entre o tempo da narrativa e o tempo de acção. O fluxo da consciência é mais agradável para o leitor, é um truque bastante novo, e preferido pelo escritor moderno, porque exige um trabalho menos detalhado. Os escritores realistas tinham de descrever o espaço da narrativa, tinham de ter cuidado com a cronologia e outros elementos do mundo ficcional. O fluxo da conciência permite uma aproximação mais desleixada, o narrador pode mudar de assunto, fazer uma digressão, pode perder o fio, saltar em tempo, não tem de se restringir a um espaço, o que lhe restringe é o tempo da narrativa, porque o tempo da acção pode abranger sua vida enteira. Como diz Manuel Aguiar e Silva «Ao contrário do tempo objectivo da deigese, o tempo do discurso narrativo é de difícil medição.(...)Poder-se-á fazer coincidir o tempo da narrativa com o tempo que é necessário dispender para a sua leitura? O tempo exigido pela leitura de um texto, porém, é igualmente um critério variável e aleatório» No romance de ALA podemos supor que o tempo da narrativa é um dia,também tendo em conta o critério um bocadinho matemático seria possível ler o livro de ALA em 24 horas. Mas o tempo de diegése é mais amplo, também como o espaço(Portugal, África)

Palavrão com a função literária

Muitas pessoas associam a literatura, a arte em geral com a qualidade do belo. A verdade é que a condição pós-moderna está muito longe dos ideais gregos do belo e bom. Esta viravolta pós-moderna está visivel também no romance antuniano.«No século XX, depois de um longo período pseudomoralista que termina em 1974, os escritores, na sua maioria, passam a utilizar todos
os registos de linguagem disponíveis. António Lobo Antunes tem sido um dos escritores
da actualidade que mais tem utilizado o calão.» (José Barbosa Machado, O léxico obsceno na prosa medieval portuguesa)Em Os Cus de Judas aparecem várias expressões da giria, vários palavrões. Este truque literário pode chocar, mas em vez de ficar ofendido é mehor reflectir qual é a função que esta expressão desempenha na obra. Com certeza não está na obra por acaso, tanto o autor como o protagonista são pessoas formadas, médicos, representantes da pequena burguesia, pessoasa que em maioria dos casos estão preocupadas com a opinião da sociedade, com a sua aparência. Mas como pode um médico usar tantos palavrões? Pode e deve, palavrão é uma das maneiras que nos servem para reduzir a tenção, aliviar as emoções. Na situação do perigo não é difícil encontrar as situações de estresse e a libertação da raiva, frustração ou otras emoções negativas via palavrão é a opção menos perigosa para todos.
Palavrão serve para fortalecer uma opinião ou como um protesto simples contra autoridade, contra ordem, conrta a hipocrisia. Acho que os palavrões no romance de ALA em maioria dos casos desempenham este papel. Junto aos palavrões aarecem cenas oscenas, feias, cruas e nojentas. A guerra não é bonita, como num quadro ou numa descrição.
«caralho, caralho, caralho»
«merda de país de merda»
«caralho de guerra, caralho de guerra»
A obcsenidade das descirções está muito visível porque em maioria dos casos aparece nas descrições do acto sexual, relacionado mais com o campo semántico positivo, bonito, ideal. ALA ao contrário mostra a faceta animalesca, crua e quase fisiológia da aproximação do homem e da mulher. È a querra que torna o homem assim, é a guerra que lhe faz chorar, que lhe diminui a humanidade.
«envergonhado do tamanho do meu pénis murcho que não crescia, reduzido a uma tripa engelhada entre os pêlos ruivos lá em baixo, a hospedeira pegou-lhe educadamente com dois dedos como num jantar de cerimónia não sei se com surpresa ou com desgosto»

O anti-herói heróico- Os Cus de Judas


A reflexão literaria sobre o protagonista, antigamente chamado herói é muito actual no romance de ALA. O imaginário popular cria sempre os heróis da guerra, quanto a guerra colonial a situação complica-se bastante. È dificil dizer quem é herói e se esta exressão pode ser usada nos nossos tempos. A relativização destói os mitos dos guerreiros nobres por um lado mas por outro dá-nos a possibilidade de conhecer os factos. Em Os Cus de Judas não existem heróis, existem só seres humanos tais como são com suas fraquezas, necessidades, emoções e medos, com carne sangue e ossos. No livro de ALA o narrador da história é ao mesmo tempo uma das personagens do romance, mas será que é a guerra é o protagonista, o anti-herói? A discussão à volta dos chamados heróis da literatura está muito interessante porque «o conceito de herói está estreitamente ligado aos códigos culturais, éticos e ideológicos, dominantes numa determinada época histórica e numa determinada sociedade» ( Silva, Manuel de Aguiar e, Teoria e Metodologia Literárias) Qual foi o ideal do herói no tempo da publicação do romance e qual é hoje? Acho que o protagonista no romance de ALA é um anti-heroi por definição o herói «espelha os ideais de uma comunidade ou de uma classe social, encarnando os padrões morais e ideológicos que essa comunidade ou essa classe valorizam». Portagonista do romance, jovem médico da pequena burguesia não representa nenhum dos valores de Estado Novo, é como dizem os autores do livro The politics of war memory and commemoration «heroic antihero» descaradamente criticando o Estado Novo e as beatas salazaristas. Na imagem abaixo podemos ver quais foram estes valores, ou melhor princípios. Nacionalismo, a defesa do colonialismo, patriotismo e culto dos heróis, cristianismo e valorização da família e do trabalho rural. Os trechos do livro, as vezes obscenos, outras vezes sarcásticos não deixam dúvidas que o médico é um anti-herói salazarista po definição.

«As Senhoras Do Movimento Nacional Feminino vinham por vezes deistrair os visions da menopausa distribuindo mdalhas da Senhora da Fátima e porta-chaves comaa efígie de Salazar, acompanhadas de padre-nossos nacionalistas e de ameaças do inferno bíblico de Peniche, onde os agentes da PIDE superavam em eficácia os inocentes diabos de garfo em punho do catecismo. Sempre imaginei que os pêlos dos sus púbis fossem de estola de raposa, e que das vginas lhes escorressem, quando excitadas, gotas de Ma Griffe e baba de caniche, que abandonavam rastros luzidios de caracol na murchidão das coxas.»

«Èramos peixes, somos peixes, fomos sempre peixes, equilibrados entre duas águas na busca de um compromisso impossível entre a incomformidade e a resignação, nascidos sob o signo da Mocidade Portuguesa e do seu patriotismo veemente e estúpido de pacotilha, (…) espiados pelos mil olhos feozes da PIDE, condenados ao consumo dos jornais que a censura reduzia a louvores melancólicos ao relento de sacristia de província do Estado Novo»(Os Cus de Judas)

niedziela, 14 listopada 2010

Os Cus de Judas- Escritor médico ou médico escritor?



Queria voltar para a minha primeira entrada e concentrar-se mais no aspecto semântico do livro e no modo como as duas profissões desempenhadas pelo ALA interferem-se criando o seu estilo. António Lobo Antunes não só refere-se a lilnguagem relacionada com medicina, o que é relevante no seu estilo é, como diz Norberto do Vale Loureiro Cardoso «linguagem gongórica». ALA usa metáforas complicadas, acho que todo o livro pode ser compreendido como uma metáfora da guerra, como «uma semantização textual continuada, como uma frase interminável». Esta faceta barroca do romance também é constituida pelas referencias que o narrador faz ao longo do seu discurso. Como um poeta barroco ele usa tantas referencias para explicar melhor o sentido que quer nos transmitir. Junto com a riqueza de linguagem aparece ironia azeda de Antunes o que sublinha a ironia, é sarcastico e bonito ao mesmo tempo.

«(...) casado com uma espécie de botija de gazcidla enfeitada de colares estridentes, sempre a queixar-se aos oficiais dos beliscões com que os soldados lhe homenageavam as nádegas atlânticas, difíceis, aliás, de discernir numa mulher aparentada a um imenso glúteo rolante em que mesmo as bochechas possuíam qualquer coisa de anal e o nariz se aparentava a inchaço incómodo de hemorróida (...)»

«o refelxo do génio, e sobre as nossas cabeças ungidas tombam as línguas de fogo de Johny Espirito Santo Walker
Não acham que o uso de termos médicos, estranhos para quem não estudou medicina, enriquece e tonra ainda mais gongórico o discurso de ALA?

Para mim ALA no primeir lugar é escritor, se não não houvesse na sua obra uma linguagem tão cuidadosamente trabalhada, bonita, complicada e obscena ao mesmo tempo. Mas disso escreverei numa outra entrada.