Depois da crise da viravolta moderna os ideais gregos do belo e do bom desactualizara-se. Acho que a modernidade criou a sua definição do belo que não pode ser definida como estético e bonito. A estética pós-moderna concentra-se na descoberta de um método para apresentar a realidade na sua totalidade, a preocupação estética tradicional deixou de ser tão importante. A pósmodernidade usa muito o campo semântico antes conciderado baixo e indigno para a literatura. A nova estética tem alguns traços do turpismo porém o obsceno, feio e grosseiro está apresentado como uma parte integral da vida quotidiana, as pessoas cheiram mal, têm desejos quase animalescos, defecam, masturbam-se. Acho que em Os Cus de Judas o autor tenta chegar a essência do que é um ser humano tambéma través da apresentação deste lado. A nudez, o despir-se de roupas, mas também das máscaras, das regras sociais e do bom tom é o estado em que aproximamo-nos mais a essa essência.
«Pela alminha de quem lá tens entesa-te, supliquei a mirar de viés a minha pila morta, não me deixes ficar mal e entesa-te, pela tua saúde entesa-se, entesa-se, foda-se, entesa-se, a minha mulher mudava fraldas de alfinete de ama na boca, o tenente devia falar na criada ao capelão aterrado que se benzia, os caixões na arrecadação aguardavam que eu me estendesse, obediente, no foro de chumbo, a rapariga parou de me bejar, apoiou-se no cotovelo como as figuras dos túmulos etruscos, passou-me a mão na cara e perguntou O que é que não vai bem, Olhos Azuis?, e eu encolhi os ombros, rodei até ficar de bruços no lençol e desatei a chorar.»
«falta-me a tua vagina ensolarada para ancorar a minha vergonha de ternura, o meu pénis erecto que se curva para ti como os mastros se inclinam na direcção do vento, esta sede de amor raivoso que te escondo»
O ser nú mostra o que escondemos por dentro, mas este lado nem sempre é positivo.
«Era boa, hã? Estava feita com os turas. Comissária, topa? Demos-lhe uma geral para mudar o óleo à rapaziada(...)»
«Está em si, no seu perfil sarcástico desprovido de amor, na obstinação do seu silêncio e no mover mecânico das suas ancas durante o coito, devorando o meu pénis como um estómago digere, indiferente, o alimento que lhe oferecem, recebendo os meus beijos na paciência vagamente aborrecida das prostitutas da minha infância.»
«Entrei no quatro de banho dos sargentos, na pocilga eternamente inundad e nauseabunda a que se chamava quart de banho dos sargentos, vi o oficila abraçado, numa espécie de desespero epiléptico, à prisioneira, criatura muda e tímida encostada aos azulejos,(...)as nádegas do homem formavam um movimento de êmbolo que se apressava, a camisa pegava-se às costas em ilhas imprecisas de suor»