sobota, 23 października 2010

António Lobo Antunes- Os Cus de Judas

« A proximidade da morte torna-nos mais avisados ou, pelo menos, mais prudentes: em Luanda, à espera de seguir dentro de dias para a zona de combate, trocávamos com vantagem a metafisica pelos cabarés safados da ilha, uma pêra de cada lado, o balde de espumante Raposeira » à frente, e a pequena vesga do strip-tease a despir-se no palco no mesmo alheamento cansado com que uma cobra velha muda de pele(…) De facto, e consoante as profecias da família, tornar-me um homem:uma espécie de avidez triste e cínica, feita de desesperança cúpida, de egoísmo, e da pressa de me esconder de mim próprio, tinha substituindo para sempre o frágil prazer da alegria infantil, do riso sem reservas nem subentendidos, embalsamado de pureza, e que me parece escutar, sabe? »

A degeneração humana consoante narrador é a perca do frágil prazer da alegria. Soldados longe das famílias, longe das autoridades e da sociedade sentem-se livres, impunes. Desfrutam desta situação, abusam mulheres, bebem em excesso, tentam suavizar a dor causada pela guerra, tentam tratar a ferida na alma, resultado da desilusão prematura. Os soldados por um lado são jovens, cheios de ideias, ternos, «mesmo antes do sexto JB sem água ou do oitavo drambuie» por outro lado assistindo à brutalidade da guerra tornam-se como animais com fome, que correm para saciar sua necessidade. Acham que durante a guerra as pessoas que não têm controle e autoridades perdem a sua humanidade? Acham que a guerra é  «a aprendizagem da agonia»?

3 komentarze:

  1. Do meu ponto de vista a frase «Soldados longe das famílias, longe das autoridades e da sociedade sentem-se livres, impunes» não é muito oportuna. É uma opinião radical e arriscada. Trata-se dos soldados como se fossem una meninos numa colónia de férias que escaparam dum olhar vigilante dos pais e tutores e agora fazem o que querem. Acho que isso não é justo. As pessoas perdem a sua humanidade durante a guerra por causa das cenas horríveis a que assistem todos os dias e dos terrores e vida no perigo constante que lá vivem. É isso que lhes tira a humanidade e que lhes faz assemleharem-se a animais. Cair em abusos de mulheres, bebedeiras excessivas são tentativas de auto-defesa, tornar-se insensível é o único modo de sobreviver a crueldade da guerra e não o efeito de súbita liberdade e falta de controle. Eles de certeza não são livres na guerra porque não se meteram nela de própria vontade mas foram obrigados a ir lá. Têm de submeter se aos comandos, rigor e disciplina. Nem se sentem impunes, porque um erro mínimo pode lhes custar a saude ou a vida. É assim como eu o vejo.

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  2. A verdade é que não achei necessário explicar que a frase que citaste refere-se a situação da guerra. Quando luta-se no seu território as pessoas têm apoio psicológico por parte dos civis, não sofrem da solidão, como por exemplo quando estão no outro continente. Mas concordo contigo, de propósito escrevi uma opinião tão extrema para suscitar emoções e provocar comentários ;) E vou sublinhar, para não deixar dúvidas, não queria ofender a ninguém.

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  3. Eu também desafiaria a tua passagem "sentem-se livres, impunes. Desfrutam desta situação, bebem em excesso...".

    A ideia que também me passou é que a guerra é um campo de férias onde se vai para se divertir, para "desfrutar", para beber e violar mulheres sem que se sofram consequências. Acho que é uma ideia errada e que não está presente nem no livro, nem no excerto que citas. Talvez queiras citar um fragmento do texto que mostre melhor o que estás a dizer ou então deves reformular a tua opinião para que seja mais clara. E não está em questão ofender ou não, mas sim fazer juízos de valor fundamentados. Se um juízo de valor é devidamente fundamentado e ofende, é outra história.

    E para acabar ainda desafio a tua frase "as pessoas têm apoio psicológico por parte dos civis, não sofrem da solidão". Eu diria que em qualquer guerra, há muita solidão e que as pessoas têm de aguentar muito a nível psicológico e físico. Só que a ideia de guerra para nós está cheia de histórias de heróis valentes, sacrifícios de vida, honra e nobreza. E esquecidos (porque pouco espectaculares?), ficam o medo, a vergonha, a cobardia, a vileza, o horror, a crueldade e tantas outras coisas que o narrador nos traz à memória com esta história.

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